Por: Carlos Alberto Tavares Ferreira
CEO Carbon Zero
Portugal é reconhecido por sua beleza natural e cultura vibrante, mas enfrenta desafios significativos em seus centros urbanos e zonas periurbanas.
A região do Porto e seu entorno metropolitano sintetizam muitos dos dilemas ambientais contemporâneos: urbanização acelerada, pressão sobre os recursos hídricos e degradação florestal.
Introdução
A região do Porto e sua Área Metropolitana representam um dos territórios mais dinâmicos de Portugal economicamente vibrante, culturalmente influente e demograficamente denso.
No entanto, essa vitalidade contrasta com uma crescente pressão sobre os sistemas naturais, refletida na urbanização desordenada, na poluição hídrica persistente e na fragmentação de ecossistemas florestais.
Combinando dados técnicos atualizados e uma leitura crítica do território, este artigo oferece um diagnóstico ambiental estruturado da Região Metropolitana Norte, focalizando os principais vetores de impacto ambiental.
Além da caracterização dos problemas, propomos caminhos sustentáveis viáveis, ancorados na ciência aplicada, na governança territorial colaborativa e na inovação ecológica.
A urgência da ação ambiental em contextos urbanos e periurbanos como o do Porto não reside apenas na mitigação dos danos, mas na capacidade de regenerar paisagens, restaurar a resiliência hídrica e reconectar florestas autóctones, garantindo qualidade de vida e equilíbrio ecológico para as próximas décadas.
Este artigo traz um panorama técnico desses problemas e propõe soluções baseadas em ciência, governança local e inovação ecológica.
1 – Problemas Ambientais Urbanos
Situação Atual: A urbanização intensa tem levado à crescente cobertura do solo com materiais impermeáveis (asfalto, concreto), diminuindo a capacidade de infiltração da água e elevando os riscos de inundações em zonas urbanas.
1.1 Impermeabilização do Solo: Escoamento Superficial e Risco de Enchentes
Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a Área Metropolitana do Porto (AMP) apresenta uma das mais elevadas taxas de impermeabilização do país.
Caminhos Sustentáveis:
- Implementação de Infraestruturas Verdes e Azuis (como pavimentos permeáveis, jardins de chuva e valas de infiltração);
- Adoção dos princípios de SUDS (Sustainable Urban Drainage Systems), como já regulamentado em algumas cidades da Europa;
- Mapeamento hidrológico participativo, com envolvimento das autarquias e da comunidade.
Referência: APA (2021), Relatório do Estado do Ambiente; EEA Report No 12/2018 “Green Infrastructure and Flood Management”.
1.2 Qualidade do Ar Comprometida
Situação Atual: A AMP tem registado concentrações elevadas de NOx e partículas finas (PM2.5 e PM10), sobretudo em áreas de tráfego intenso como a Baixa do Porto, Boavista e a VCI.
A origem está, principalmente, no transporte rodoviário e aquecimento residencial.
Caminhos Sustentáveis:
- Criação de Zonas de Emissões Reduzidas (ZER), como em Lisboa e cidades nórdicas;
- Ampliação da mobilidade elétrica e ciclável, com rede integrada entre municípios;
- Promoção do transporte público descarbonizado, com frota movida a hidrogênio e biometano.
Referência: QualAR (Qualidade do Ar em Portugal, 2023); European Environment Agency – Air Quality in Europe 2022 Report.
1.3 Acúmulo de Resíduos e Desigualdade na Gestão Intermunicipal
Situação Atual: Embora Portugal tenha evoluído em reciclagem, a AMP apresenta grandes disparidades entre municípios.
Ainda se observa grande volume de resíduos urbanos indiferenciados e baixa adesão à compostagem.
Caminhos Sustentáveis:
- Criação de centros de compostagem locais em bairros e freguesias;
- Fortalecimento da gestão consorciada entre municípios, com metas comuns de desvio de resíduos de aterro;
- Incentivos à economia circular, com integração de cooperativas, startups e ecoparques.
Referência: PERSU 2030 (Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos); Estratégia Nacional para a Economia Circular (ENEC 2030).
1.4 Pressão Sobre Áreas Verdes Urbanas
Situação Atual: A expansão urbana tem reduzido a cobertura vegetal nas freguesias periféricas da AMP, como em Valongo, Gondomar e Maia.
A perda de serviços ecossistémicos (sombreamento, regulação térmica e biodiversidade) já impacta a qualidade de vida.
Caminhos Sustentáveis:
- Inserção obrigatória de corredores ecológicos e zonas verdes contínuas nos PDMs (Planos Diretores Municipais);
- Criação de microflorestas urbanas (modelo Miyawaki) e hortas comunitárias em terrenos baldios;
- Instrumentos financeiros como os Orçamentos Participativos Verdes. Referência: Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT); ONU-Habitat – “Nature-based Solutions in Urban Planning”.
2. Nossas Recomendações da Carbon Zero
2.1 Planejamento Urbano Integrado com Prioridade para Zonas Verdes e Corredores Ecológicos
Justificativa Técnica: A fragmentação urbana e a descontinuidade de áreas verdes comprometem a biodiversidade local e aumentam o efeito de ilha de calor.
A incorporação de infraestrutura verde nos planos diretores municipais é fundamental para reconectar habitats e restaurar a funcionalidade ecológica urbana.
Propostas Concretas:
- Atualização dos PDMs com zonas prioritárias para corredores ecológicos e reflorestamento urbano;
- Criação de um plano metropolitano de conectividade ecológica, em articulação com as bacias hidrográficas locais;
- Integração de zonas verdes multifuncionais em novos empreendimentos urbanos, com critérios ecológicos obrigatórios em licenciamento.
Referência: Green City Tool – European Commission; PNPOT; Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030.
2.2 Requalificação de Áreas Degradadas para Uso Comunitário
Justificativa Técnica: Espaços urbanos subutilizados ou degradados são oportunidades para intervenção sustentável com forte impacto social. Sua reconversão pode promover inclusão, segurança alimentar e bem-estar.
Propostas Concretas:
- Implantação de microflorestas urbanas nativas usando o método Miyawaki (crescimento rápido e alta biodiversidade);
- Criação de hortas comunitárias autogeridas com apoio técnico das autarquias e ONGs locais;
- Estímulo a parques urbanos sustentáveis com mobiliário reciclado, gestão hídrica inteligente e infraestrutura de lazer verde.
Referência: FAO Urban Forestry Guidelines; Miyawaki Method (UN Decade on Ecosystem Restoration); Lisboa Capital Verde Europeia 2020.
2.3 Monitoramento Contínuo da Qualidade do Ar com Metas Locais de Redução de Emissões
Justificativa Técnica: A transparência e a rastreabilidade dos dados ambientais aumentam a responsabilização pública e subsidiam políticas eficazes. O ar limpo é um direito fundamental e está diretamente ligado à saúde pública.
Propostas Concretas:
- Instalação de estações de medição de baixo custo (sensores móveis e fixos) em escolas, hospitais e zonas de tráfego;
- Definição de metas municipais de redução de NOx e PM2.5 em consonância com a nova Diretiva Europeia da Qualidade do Ar (2023);
- Plataforma digital com dados em tempo real e mapas de calor acessíveis à população.
Referência: Air Quality Directive 2023/958/EU; OpenAQ; Plataforma QualAr (APA).
2.4 Educação Ambiental e Incentivos à Economia Circular
Justificativa Técnica: Mudanças estruturais dependem de transformação cultural. A educação ambiental e os mecanismos de incentivo são catalisadores de novos hábitos e práticas empresariais mais sustentáveis.
Propostas Concretas:
- Programas escolares e comunitários de alfabetização ecológica com base na Agenda 2030 e Objetivos do Desenvolvimento Sustentável;
- Criação de um “Selo Circular AMP” para negócios com práticas inovadoras de reutilização, reparo e reciclagem;
- Apoio a laboratórios vivos de economia circular com participação cidadã, universidades e setor produtivo.
Referência: ENEC 2030 (Estratégia Nacional para a Economia Circular); UNESCO Greening Education Partnership; Ellen MacArthur Foundation, Circular Cities Toolkit.
2. Desafios Hídricos Regionais
2.1 Poluição Persistente em Rios Urbanos: Leça e Tinto
Situação Atual: Os rios Leça e Tinto, que atravessam áreas densamente urbanizadas do Porto, Gondomar, Maia e Matosinhos, sofrem com a poluição causada por ligações ilegais de esgotos domésticos e industriais, além da drenagem de águas contaminadas.
Apesar de alguns avanços no saneamento, persistem episódios de elevada carga orgânica e metais pesados.
Soluções Sustentáveis:
- Implementação de projetos de renaturalização urbana com reconversão de margens canalizadas para leitos naturais, como feito no Rio Sudoeste em Lisboa;
- Fiscalização intensiva e saneamento participativo, com a utilização de drones e sensores para identificação de pontos de descarga clandestina;
- Parcerias com escolas e comunidades para monitoramento cidadão da qualidade da água, integrando dados em plataformas abertas (como Rios+Limpos da APA).
Referência: Agência Portuguesa do Ambiente, Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Douro (PGRH-Douro 2022); Projeto europeu BlueGreenCity.
2.2 Pressão sobre o Rio Douro por Poluição Difusa e Urbanização da Bacia
Situação Atual: A bacia hidrográfica do Douro é uma das mais extensas da Península Ibérica e enfrenta crescente poluição difusa proveniente da agricultura intensiva, com nitratos e fosfatos afetando a qualidade da água, além da urbanização desordenada nas margens, especialmente no troço entre Peso da Régua e o litoral.
Soluções Sustentáveis:
- Criação de Zonas-Tampão Ribeirinhas (ZTR) com vegetação nativa para filtrar e reter contaminantes antes que alcancem o rio;
- Estímulo ao uso de biofertilizantes e práticas agroecológicas na bacia, com financiamento europeu (ex: PEPAC – Política Agrícola Comum);
- Integração da gestão da bacia com Infraestruturas Verdes e urbanismo hídrico sustentável (como nos planos “CityAdapt” da ONU).
Referência: European Waters Report 2023 (EEA); ICNF – Plano Sectorial da Rede Natura 2000.
2.3 Aquíferos Vulneráveis à Contaminação por Nitratos e Agrotóxicos
Situação Atual: Os aquíferos que abastecem diversos concelhos da AMP, como o Aquífero de Valongo e as zonas de Matosinhos e Maia, encontram-se sob risco devido ao uso excessivo de fertilizantes sintéticos e pesticidas, que se infiltram no solo e atingem as águas subterrâneas.
Soluções Sustentáveis:
- Criação de zonas de proteção e recarga com uso controlado do solo e proibição de cultivos de alto impacto químico;
- Apoio à transição agroecológica com subsídios à agricultura orgânica e certificação de produtores que mantêm as águas limpas;
- Monitoramento contínuo dos aquíferos com redes de piezômetros e mapeamento hidrológico dinâmico.
Referência: Directiva Nitratos (91/676/CEE); APA, Inventário Nacional de Fontes de Nitrato.
2.4 Riscos Crescentes de Escassez Hídrica em Períodos de Seca Prolongada
Situação Atual: O aumento da temperatura média e a redução da precipitação observada no Norte de Portugal, especialmente entre 2017 e 2023, agravaram os episódios de seca.
A AMP, apesar de estar em região com relativa abundância hídrica, está vulnerável à escassez em cenários de stress climático, principalmente pela crescente demanda urbana e agrícola.
Soluções Sustentáveis:
- Elaboração de Planos de Segurança da Água por concelho, baseados em modelos de previsão climática regional (downscaling);
- Incentivo à reutilização de águas residuais tratadas para rega, limpeza urbana e uso industrial (modelo já aplicado em Albufeira e na Catalunha);
- Investimentos em eficiência hídrica nos edifícios, com reuso de águas cinzentas e sistemas de captação de chuva integrados em obras públicas e residenciais.
Referência: Relatório IPMA – Projeções Climáticas para Portugal 2023; UN-Water, Guidelines for Water Security Planning.
Nossas Recomendações da Carbon Zero, Caminhos Sustentáveis para a Segurança Hídrica Regional
2.1 Recuperação dos Rios Urbanos com Renaturalização, Despoluição e Monitoramento Participativo
Objetivo: Restaurar a qualidade ecológica dos rios Leça, Tinto e afluentes, integrando-os ao tecido urbano como corredores de biodiversidade e espaços públicos resilientes.
Ações Prioritárias:
- Planos municipais de renaturalização fluvial, com remoção de canalizações rígidas e restauração de leitos e margens naturais;
- Despoluição intensiva com soluções baseadas na natureza (NBS), como zonas húmidas construídas, fitodepuração e biorretenção;
- Implementação de redes de monitoramento comunitário com apoio de universidades, escolas e ONGs, usando sensores simples, protocolos científicos abertos e apps colaborativos.
Exemplo inspirador: Projeto “Living River” (Países Baixos) e o Plano de Revitalização do Rio Mondego (PT).
2.2 Saneamento Ecológico em Zonas Periféricas com Tratamento Descentralizado e Reúso
Objetivo: Ampliar o acesso ao saneamento básico fora das áreas centrais, com sistemas de baixo custo, sustentáveis e adaptáveis à realidade rural ou periurbana.
Ações Prioritárias:
- Instalação de sistemas descentralizados de tratamento (DEWATS) com biodigestores, leitos de macrófitas e zonas húmidas integradas;
- Estímulo ao reaproveitamento de águas residuais tratadas para irrigação de hortas comunitárias e recarga de aquíferos;
- Criação de programas municipais de saneamento ecológico com apoio técnico e financiamento europeu (Fundos de Coesão e LIFE).
Referência técnica: GIZ Guidelines for DEWATS; “Águas do Tejo Atlântico” – Projeto INDAQUA em Matosinhos.
2.3 Proteção dos Aquíferos com Zonas-Tampão e Incentivos à Agroecologia
Objetivo: Proteger os recursos subterrâneos estratégicos da contaminação e da sobreexploração, especialmente nas áreas agrícolas e de expansão urbana.
Ações Prioritárias:
- Delimitação de zonas de proteção de aquíferos e recarga hídrica com proibição de culturas intensivas químicas e atividades contaminantes;
- Criação de um programa metropolitano de fomento à agroecologia, com incentivos à conversão para práticas de baixo impacto e acesso facilitado ao mercado institucional (ex: merendas escolares);
- Monitoramento dos aquíferos com plataformas de dados georreferenciados e alertas preventivos de contaminação ou escassez.
Referência: Directiva-Quadro da Água (2000/60/CE); Programa Nacional de Uso Eficiente da Água (PNUEA).
2.4 Planos de Segurança Hídrica Regional com Adaptação à Crise Climática
Objetivo: Garantir o abastecimento sustentável de água em médio e longo prazo, mesmo sob cenários de escassez, eventos extremos e aumento da demanda.
Ações Prioritárias:
- Elaboração de Planos Municipais e Intermunicipais de Segurança da Água (PSAs) com identificação de riscos, vulnerabilidades e estratégias de resposta;
- Desenvolvimento de cenários climáticos locais (downscaling IPMA-COPERNICUS) para orientar o planejamento de infraestrutura hídrica adaptada;
- Criação de uma Agência Metropolitana da Água, em articulação com a APA e Águas do Norte, para coordenar políticas, dados e investimentos.
Modelos inspiradores: Water Resilience Framework (Stockholm Resilience Centre); “Lisbon Water Security Plan 2030”.
3. Questões Florestais e de Desmatamento
3.1 Fragmentação das Paisagens Naturais e Perda de Conectividade Ecológica
Situação Atual: A urbanização dispersa, as infraestruturas rodoviárias (como a A3 e a A4) e os loteamentos industriais contribuem para fragmentar os mosaicos florestais, isolando carvalhais, bosques ripícolas e áreas de matagal mediterrânico.
Essa perda de conectividade reduz a resiliência ecológica, impede o deslocamento de espécies e compromete serviços ecossistêmicos como regulação climática e controle de pragas.
Dados Técnicos:
- Segundo o Relatório do ICNF (2023), apenas 8% da Região Norte mantém florestas autóctones com conectividade funcional adequada;
- Os modelos de conectividade da EEA (European Environment Agency) apontam a AMP como zona crítica de fragmentação ecológica.
3.2 Expansão de Monoculturas de Eucalipto: Baixo Valor Ecológico e Alto Risco de Incêndio
Situação Atual: O eucalipto (Eucalyptus globulus) ocupa mais de 800 mil hectares em Portugal, sendo predominante nas regiões centro e norte. A AMP e concelhos limítrofes (como Valongo e Paredes) apresentam áreas de monocultura com baixa biodiversidade, alta inflamabilidade e rápido esgotamento hídrico dos solos.
Impactos Principais:
- Redução da fauna nativa e extinção local de espécies polinizadoras;
- Incêndios florestais recorrentes e intensificados, como os registados em 2017 e 2022;
- Conflitos com usos do solo agrícola e urbano.
Referência: ICNF – “Relatório Anual de Incêndios Florestais”; Centro de Estudos Florestais do ISA.
3.3 Redução de Florestas Autóctones: Carvalhais e Sobreirais em Recuo
Situação Atual: As florestas de carvalho-alvarinho (Quercus robur), carvalho-negral (Q. pyrenaica) e sobreiro (Quercus suber), adaptadas ao clima atlântico, estão em declínio contínuo por substituição por exóticas, abandono rural e fragmentação. Estas formações são fundamentais para a biodiversidade, conservação de solos e resiliência hídrica.
Tendências Preocupantes:
- Os carvalhais da Serra de Valongo, por exemplo, encontram-se em regressão e sem regeneração natural adequada;
- Apenas 2% da cobertura florestal da AMP é composta por espécies autóctones dominantes, segundo o Relatório Florestal Nacional (ICNF, 2022).
3.4 Gestão Florestal Deficiente em Áreas Privadas e Comunitárias
Situação Atual: Mais de 90% da floresta portuguesa é privada ou comunitária. Na AMP e entorno, muitos pequenos proprietários não fazem manejo ativo de suas terras, o que favorece o acúmulo de material combustível, perda de valor econômico e abandono.
Problemas Comuns:
- Falta de organização dos proprietários em Zonas de Intervenção Florestal (ZIF);
- Ausência de planos de gestão e silvicultura de baixo impacto;
- Desconhecimento sobre apoios técnicos e financeiros existentes.
Referência: Direção-Geral do Território (DGT); Observatório Técnico Independente – Relatório 2023.
Nossas Recomendações – Carbon Zero
Florestas resilientes, paisagens vivas e economia verde
3.1 Mapeamento e Restauração Ecológica de Áreas Prioritárias com Espécies Nativas
Objetivo: Reconstruir a funcionalidade ecológica da paisagem, restaurando florestas autóctones em locais estratégicos para a biodiversidade, a conectividade ecológica e o ciclo hidrológico.
Ações Prioritárias:
- Criação de um Mapa Intermunicipal de Áreas Prioritárias para Restauração, com base em dados do CORINE Land Cover, modelagem de conectividade e vulnerabilidade hídrica;
- Linhas de financiamento específicas (via PRR e LIFE) para plantação de espécies nativas como carvalho-alvarinho, medronheiro, azinheira e loureiro;
- Envolvimento de escolas, cooperativas e escuteiros em ações participativas de reflorestação e monitoramento da regeneração.
Referência: Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030; Projeto “Floresta Comum”.
3.2 Criação de Corredores Ecológicos Intermunicipais
Objetivo: Aumentar a resiliência da biodiversidade e reduzir a fragmentação, conectando áreas naturais isoladas por meio de corredores verdes multifuncionais.
Ações Prioritárias:
- Implementação de Corredores Ecológicos Intermunicipais, ligando áreas como o Parque das Serras do Porto, o Vale do Sousa e as margens do Douro e Leça;
- Utilização de infraestruturas verdes integradas ao planejamento urbano, como margens fluviais renaturalizadas, linhas de água intermitentes e faixas de proteção rodoviária revegetadas;
- Instituição de Zonas de Conservação em Solo Privado, com incentivos fiscais e pagamentos por serviços ecossistémicos.
Modelos: Green Infrastructure Strategy da União Europeia; Interlace Project – Nature-based solutions in cities.
3.3 Valorização Econômica das Florestas Nativas: Certificação, Ecoturismo e Pagamentos por Serviços Ambientais
Objetivo: Tornar a conservação das florestas autóctones uma alternativa econômica viável aos modelos baseados em monoculturas e abandono.
Ações Prioritárias:
- Expansão da certificação FSC/PEFC para produtores locais com florestas nativas ou sistemas agroflorestais;
- Desenvolvimento de rotas de ecoturismo e educação ambiental, valorizando a cultura rural e a biodiversidade local (ex: Rota dos Carvalhais, Trilhos da Biodiversidade);
- Lançamento de um programa piloto de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) para produtores que mantêm floresta autóctone em boas condições, baseado em sequestro de carbono, regulação hídrica e biodiversidade.
Referência: Projeto Reflorestar Portugal; Estratégia Europeia de Biodiversidade 2030.
3.4 Capacitação de Pequenos Proprietários em Silvicultura Sustentável e Prevenção de Incêndios
Objetivo: Fortalecer a gestão ativa das áreas florestais privadas e comunitárias, com práticas sustentáveis, seguras e economicamente viáveis.
Ações Prioritárias:
- Criação de Centros Intermunicipais de Apoio à Silvicultura Sustentável (CIAS) com apoio técnico, jurídico e logístico para os proprietários;
- Cursos de capacitação em manejo florestal resiliente ao fogo, agrofloresta e aproveitamento não madeireiro;
- Formação de brigadas civis de prevenção e primeira resposta a incêndios florestais, articuladas com os Bombeiros Voluntários e a Proteção Civil.
Modelo replicável: Zonas de Intervenção Florestal (ZIF); Projeto LIFE Landscape Fire.
Mensagem e Considerações Finais
O diagnóstico ambiental da Região Metropolitana do Porto revela um território em tensão: Por um lado, marcado pelo dinamismo urbano e pela vitalidade socioeconômica;
Por outro, pressionado por modelos de uso do solo insustentáveis, degradação hídrica e fragmentação ecológica crescente.
A urbanização acelerada, a poluição dos cursos d’água e a perda das florestas nativas são sintomas de uma crise ambiental que exige respostas estruturadas, articuladas e baseadas em evidências.
As recomendações aqui apresentadas desde a renaturalização dos rios urbanos até a criação de corredores ecológicos e incentivos à silvicultura sustentável não são apenas medidas corretivas, mas propostas transformadoras que alinham resiliência ambiental, justiça territorial e inovação climática.
A sustentabilidade da região depende da capacidade coletiva de agir com ambição, integrar conhecimento técnico à governança local e fomentar uma cultura de corresponsabilidade ambiental.
Este é o momento de reequilibrar o desenvolvimento com a natureza e garantir que o futuro metropolitano do Porto seja não apenas viável, mas exemplar.
Carlos Alberto Tavares Ferreira
Sobre a Carbon Zero
A Carbon Zero é uma empresa especializada em consultoria técnica em sustentabilidade, ESG e programas socioambientais integrados, com atuação em todo o território lusófono e projetos de referência no Brasil, Portugal e em países da África Ocidental e Oriental. Combinando inovação tecnológica, rigor científico e compromisso com a transformação ambiental justa, a Carbon Zero assessora empresas, governos e organizações na transição para modelos de baixo carbono e alto valor socioambiental.
Nossa expertise inclui:
- Elaboração de diagnósticos ambientais complexos com base em sensoriamento remoto, análise de risco climático, e valoração de ativos naturais;
- Planejamento e implantação de programas ESG completos, com indicadores mensuráveis e alinhados às melhores práticas internacionais, como GRI, SASB e os ODS da ONU;
- Criação de programas de descarbonização e compensação de emissões, com cálculo de pegada de carbono, inventário de GEE (escopos 1, 2 e 3), e projetos certificados de reflorestamento e captura de carbono;
- Desenvolvimento de soluções para cadeias produtivas regenerativas, com foco em biodiversidade, justiça climática, economia circular e inclusão socioterritorial;
- Consultorias técnicas para políticas públicas ambientais, com foco em ordenamento territorial, segurança hídrica, gestão de resíduos e valoração de serviços ecossistêmicos.
Ao longo dos últimos 18 anos, a Carbon Zero tem se destacado como referência técnica e estratégica para quem busca alinhar desempenho ambiental, impacto positivo e responsabilidade corporativa.
Nossa missão é clara: descarbonizar, regenerar e transformar territórios com base em ciência, participação e inovação ecológica.
Fontes de Pesquisa Utilizadas
1. Problemas Ambientais Urbanos
- Agência Portuguesa do Ambiente (APA) – Relatórios do Estado do Ambiente 2022-2023
https://apambiente.pt - European Environment Agency (EEA) – Air Quality in Europe 2023 Report
https://www.eea.europa.eu/publications/air-quality-in-europe-2023 - Instituto Nacional de Estatística (INE) – Estatísticas da Construção e Habitação na AMP
https://www.ine.pt - Pacto do Porto para o Clima – Município do Porto (2021)
https://cm-porto.pt/ambiente - ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável – Dossiês sobre Mobilidade Urbana e Gestão de Resíduos
https://zero.ong/ - Plano Metropolitano de Ordenamento do Território (PMOT) da AMP
https://www.amp.pt
2. Desafios Hídricos Regionais
- Agência Portuguesa do Ambiente (APA) – Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Douro 2022-2027
https://apambiente.pt/sites/default/files/_APAmbiente/Agua/PlaneamentoGestaoRH/PlanoRH7/PGH_Douro_2022-2027.pdf - Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) – Estudos sobre poluição difusa e nitratos nas águas subterrâneas
https://www.lnec.pt - European Commission – DG Environment – Water Reuse Regulation (EU) 2020/741
https://environment.ec.europa.eu/topics/water/water-reuse_en - Universidade do Porto – Faculdade de Engenharia (FEUP) – Projetos de saneamento e requalificação dos rios Tinto e Leça
https://sigarra.up.pt/feup/ - Projeto Hidroeco – Renaturalização de Rios Urbanos do Norte de Portugal
https://hidroeco.pt
3. Questões Florestais e de Desmatamento
- Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) –
- Relatório do Estado das Florestas 2023
- Relatório Anual de Incêndios Rurais
https://icnf.pt
- Direção-Geral do Território (DGT) – Carta de Uso e Ocupação do Solo (COS) e CORINE Land Cover Portugal
https://www.dgterritorio.gov.pt/ - Observatório Técnico Independente – Assembleia da República – Relatórios Anuais sobre Incêndios Florestais (2018-2023)
https://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/ObservatorioTecnico.aspx - Plataforma “Floresta Comum” – Liga para a Proteção da Natureza (LPN), ANMP e ICNF
https://www.florestacomum.org/ - Projetos LIFE da União Europeia em Portugal –
- LIFE Landscape Fire – Gestão integrada do risco de incêndio
- LIFE Lungs – Corredores ecológicos urbanos
https://lifelungs.cm-loures.pt
https://ec.europa.eu/easme/en/section/life
- European Commission – EU Biodiversity Strategy 2030
https://environment.ec.europa.eu/strategy/biodiversity-strategy-2030_en - Associação Reflorestar Portugal – Modelos de restauração com espécies autóctones e pagamentos por serviços ambientais
https://reflorestar-portugal.com