Opinião

Alem da Superfície: Como os Rios Urbanos Podem Regenerar as Cidades e o Planeta

Alem da Superfície: Como os Rios Urbanos Podem Regenerar as Cidades e o Planeta - InBrief - Simples, Direto, Essencial

Rios Vivos, Futuros Sustentáveis: A Nova Fronteira da Descarbonização Urbana

Vivemos um momento decisivo para o futuro das cidades e do planeta. Em meio a crise climática, a perda de biodiversidade e a degradação ambiental, surge uma solução muitas vezes esquecida, mas fundamental: a revitalização dos rios urbanos.

Rios urbanos são espelhos do desenvolvimento humano. Refletem nossos avanços, mas também nossos erros. Foram canalizados, cobertos, transformados em esgotos a céu aberto, e hoje são símbolo da desconexão entre natureza e cidade. No entanto, esses corpos d’água ainda tem um papel poderoso a desempenhar na regeneração ecológica e na construção de cidades mais resilientes, saudáveis e sustentáveis.


Durante as últimas décadas, os modelos de urbanização ignoraram a importância dos ecossistemas aquáticos e fluviais. No Brasil, exemplos como os rios Tiete e Pinheiros em São Paulo, ou o Rio Arruda em Belo Horizonte, são apenas alguns entre centenas que enfrentam abandono, poluição e intervenções que violam a lógica da natureza.

Tenho acompanhado, com preocupação e esperança, os movimentos de reconexão entre cidade e rio. E posso afirmar com segurança: revitalizar rios urbanos é uma das formas mais eficazes, acessíveis e integradas de combater as mudanças climáticas, promover justiça social e reverter a crise da água.


Rios urbanos como ferramentas de descarbonização


A descarbonização das cidades passa obrigatoriamente pela restauração dos seus ecossistemas naturais. Os rios urbanos, quando reabilitados, não apenas sequestram carbono em suas margens reflorestadas, como ajudam a mitigar ilhas de calor, aumentam a humidade relativa do ar, reduzem riscos de enchentes e fomentam cadeias produtivas locais mais sustentáveis.


Esses corpos d’água, quando integrados ao planejamento urbano, tornam-se corredores verdes vivos caminhos de biodiversidade, ar puro, resfriamento climático e lazer social. Já temos provas concretas de que funciona: cidades como Seul (Coreia do Sul), Medellín (Colômbia) e Portland (EUA) transformaram rios degradados em eixos estruturantes de inovação urbana.

Alem da Superficie: Como os Rios Urbanos Podem Regenerar as Cidades e o Planeta - Carlos Alberto Tavares Ferreira - InBrief


Soluções baseadas na natureza: o caminho e possível


As chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SbN) são alternativas inteligentes, financeiramente viáveis e ecologicamente eficazes. Jardins filtrantes, zonas húmidas artificiais, parques lineares e reflorestamento de margens são apenas algumas das técnicas aplicáveis com grande impacto.

Na Carbon Zero, temos aplicado essas soluções em diferentes contextos: da proteção de nascentes urbanas ao mapeamento de resíduos invisíveis em rios poluídos. Com o apoio do CAPES Centro de Apoio e Pesquisa, monitoramos a emissão de metano em áreas de dragagem urbana e propomos modelos de baixo custo e alta replicabilidade.


Um exemplo emblemático e a Reserva Natural Nascentes do Rio Açungui, que coordeno há 27 anos. Essa area de proteção não só resguarda mais de 300 nascentes como garante segurança hídrica para milhões. Ali, demonstramos como a conservação da água, da vegetação e do solo e a base de qualquer politica de sustentabilidade.


Rios como eixos de justiça social e inclusão


Revitalizar rios não e apenas uma questão ambiental, mas também de justiça social. São as populações periféricas e mais vulneráveis que vivem nas margens desses rios poluídos, muitas vezes sem acesso a saneamento, segurança ou lazer.


Transformar essas áreas e também garantir dignidade, gerar empregos verdes e envolver a comunidade em ações de longo prazo. Quando os rios voltam a correr limpos, a vida ao redor deles floresce em todos os sentidos.


Hora de agir: a revolução dos rios urbanos já começou


O Programa Corredores de Agua Boa, criado por mim em 2004 e já presente em 8 países africanos, mostra que é possível reverter décadas de degradação com soluções locais, baseadas em ciência e engajamento comunitário. Nossa missão e simples: proteger os cursos d’água como corredores de vida, alimento e adaptação climática.


Está na hora do Brasil liderar essa transformação. Não precisamos esperar por grandes investimentos ou soluções mirabolantes. Podemos começar com pequenos trechos de rio, escolas participando, empresas adotando margens, e políticas públicas integradas ao planejamento hídrico e climático.


O rio urbano pode ser, novamente, o coração pulsante da cidade. Basta escutarmos o que ele tem a dizer.


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Carlos Alberto Tavares Ferreira
Fundador e CEO da Carbon Zero, é uma das principais referências na América Latina em sustentabilidade, descarbonização e programas socioambientais. Fundador da Fundação Tavares Ferreira, acredita no poder das alianças estratégicas para transformar realidades ambientais e sociais. Criou o CAPES Centro de Apoio e Pesquisa, que certifica projetos socioambientais e de compensação, e é o idealizador do Programa Corredores de Água Boa, lançado em 2004 e atualmente presente em oito países africanos por meio do Programa Corredores de Água Boa África. Há 27 anos, Fundou e dirige a Reserva Natural Nascentes do Rio Açungui, que protege as principais nascentes do rio responsável por abastecer mais de 8 milhões de pessoas no Estado de São Paulo. É Coordenador da Global Sustainable Futures Network (GSFN), com sede em Londres, promovendo soluções sustentáveis alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Integra ainda o World Resources Institute (WRI) é também, membro da Câmara de Comércio Internacional (ICC), de Paris, onde atua na promoção de práticas ESG e de governança ambiental no contexto global. Criou em 2018 o Painel Paranaense de Adaptação e Mudanças Climáticas, que pode ser replicado para qualquer pais.

2 Comentários

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